sábado, 29 de janeiro de 2011

Sentimental e Viscoso.


Há poesia pura no sexo. No gênero e no ato. Em todas as suas formas. Em toda a sua duração. É lamentável haver ainda tantos tabus com tantas coisas. Alguns enxergam desejo, outros reprodução, passatempo, ou nem mesmo o enxergam como algo necessário. Porém há quem julgue determinada ânsia e querer uma aberração.
Pois, junte-se á mim todo aquele que for á favor de toda manifestação sexual de desejo e Amor.
Liberte-se de si! Dos seus conceitos cheios de poeira e pré-conceitos saídos do forno. Vamos além! Vamos pintar e escrever!
Desenhemos as curvas, o desenho dos ossos, a disposição dos rostos. Permita-se descobrir texturas! Cabelos, pêlos, dedos. Cílios, lábios, mamilos e barbas.
Dance! Deite, role, agache, estique, abra, feche, enrijeça, relaxe.
Exponha! Silhuetas, caretas, gemidos, ruídos, suspiros, gritos, manifestações sonoras desconhecidas. Explode! Tapeie, puxe, belisque, arranhe , implore, suplique!
Enlouqueça. Perca-se no mais estimulante e poético sentido: O olfato. Delire no perfume, no hálito, no corpo, na dela, no dele, nos nossos, nos deles, nas dobras, nos pés, nos lençóis.
Suicide-se.
Sinta fluir.
Deixe emergir.
Sentimental e viscoso.
Respire, Ame.
E então, comece tudo de novo.

Mesmo que seja todos os dias com a mesma pessoa.
Mesmo que seja todos os dias com alguém diferente.
Mesmo que seja só na sua imaginação, ao avistar delícias na rua.
Mesmo que seja com você mesmo.

Mas, que seja.
Façamos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Esmalte

Para mim, o Amor acontece uma vez só.
Depois, fazemos ensaios e variações sobre ele.
Saímos do nosso primeiro verdadeiro Amor com um legado que consiste em bagagens abarrotadas de roupas mau passadas e manuais de como funciona isso ou aquilo. Em relacionamentos com um outro alguém depois de já ter amado, tem toda aquela história do “Olha, eu já passei por isso, então eu acho melhor...” E é aí que concluo que realmente o Amor acontece uma vez só.
Amor é quando você não passou por nada disso, quando você se arrisca com tudo pela primeira vez: lambe a faca sem medo de cortar, faz Amor numa cama de pregos, confia com os olhos vendados por um pano imerso em ácido. Quando não se sabe o que fazer, como agir, o que dizer. Quando não se define, nem se procura por definições (lembrando, claro, que este é apenas o meu desgraçado ponto de vista).
Por mais harmonioso que ás vezes possa ser um relacionamento, sempre será um campo de concentração: você nunca sabe o que te espera.
O Amor é uma garrafa de whisky, um colchão de molas, uma ratoeira, um vidro de esmalte vermelho.
O Amor que lhe pintou as unhas com a vivacidade rouge, é o mesmo Amor que lhe tirou o brilho com acetona fresca. Azar o seu ter deixado resíduos debaixo da unha só pra poder mordiscar depois. Não é saudável, sabia?! Mas, convenhamos. Quem é que disse que conseguimos controlar o impulso?
Pego-me perguntando: Então, gostarias de não ensaiar variações e arriscar tudo de novo sem conhecer o terreno?
A verdade é que eu não sei a resposta. Isto vai ficar martelando em minha cabeça, mas tenho certeza que não vou chegar á conclusão alguma.
Contudo, mesmo sendo o Amor um acontecimento único, felizes somos nós que podemos Amar de novo. Seja ensaiando, variando, ou sob a felicidade terrível de descobrir que eu estou errado, e que se pode sim, mesmo depois do Amor mais forte de uma vida, repetir á dose.
A dose de whisky, de esmalte.
Os “Eu Te Amo” claustrofóbicos.
As queimaduras de terceiro grau resultantes dos sexos em ebulição.
O choro maricas diante da reprise do Amor em cena.
Tragédia. e comédia. Horror e pornografia.
Amemos.
Morramos.


Cláudio Rizzih.

                                                                             

Encerro com uma das obras mais lindas de Picasso, L'étreinte (1903), que eu interpretei de forma muito especial, e senti tocar-me de acordo com as palavras que deixei acima. 


"O que será? Que Será? Que vive nas idéias desses amantes
 Que cantam os poetas mais delirantes
 Que juram os profetas embriagados
 Está na romaria dos mutilados
 Está nas fantasias dos infelizes
 Está no dia a dia das meretrizes
 No plano dos bandidos dos desvalidos
 Em todos os sentidos. Será, que será?
 O que não tem decência, nem nunca terá!
 O que não tem censura, nem nunca terá!
 O que não faz sentido..."


(Chico Buarque)

Abraços calorosos, 

Claudio Rizzih.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Âncora", e outras notícias do velho porto.

“Atenção senhores  passageiros da Auto Viação Catarinense, com passagem marcada para todas as horas, carro procedente dos seus sonhos, com destino á Degraus, Recomeço, Suor e Vitória: Portão de embarque C, plataforma 18. O TERRI deseja á todos uma boa viajem!”

Não é bem isso que diz a voz da moça da locução, mas é o que eu ouço. Mais uma vez me encontro no meu porto de emoções, resgatando o náufrago que sou para retomar viagem e atracar em um cais de outrora.
Não minto. Tempestades revoltas me assustam e nuvens cinza, mesmo lindas, me põem receoso. Mas já não há o que temer, tendo antes viajado por mares desconhecidos e descoberto a aparição fiel do sol ao fim da volta em meu próprio mundo.

Aportemos!

Claudio Rizzih.



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Aos master queridões admiradores dos meus trabalhos, aí vem coisa nova! Estréia no dia 13 de Março a nova temporada do Its Séries da Rede Record (Ric), pra toda Santa Catarina e Paraná pela televisão, e pra todo o Brasil pelo site da revista Atrevida. 
No elenco, euzitcho rs, Claudio Rizzih (Felipe), Giseli Ballestreri (Carol), Jholl Bauer (Tato), Thalita Meneghim (Mel), Lucas Duarte (JP), Tiffany Lastrucci (Gabí), Gabriela Fernandes (Cris) e Beppz Fontanella (Neto).
A série vai abordar temas fantásticos, e isso é tudo o que posso adiantar (se eu não quiser perder a língua e os dedos! rs).
Em Santa Catarina, o Its Séries vai ao ar aos Domingos, ás 11h30. No Paraná, aos sábados no mesmo horário. Já na Tv Atrê (Atrevida), dá pra assistir quantas vezes quiser, em qualquer lugar do Brasilsão e do mundo, rs.
Conto com vocês, ligados na telinha pra curtirmos juntos esse novo projeto que está sendo maravilhoso! Estamos trabalhando com muito carinho e dedicação pra levar algo bem massa pra vocês, sob o comando do nosso -antes de tudo, amigo- e diretor, Phil Rocha, com toda a equipe da Record empenhada! E como diz o meu grande amigo Jholl, "bóra-que-vamo!" rs.

Um milhão de obrigados e abraços esmagadores.

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E pra finalizar o post, deixo aqui uma das obras de um dos meus ídolos, Frida Desintegração da Perfeição Kahlo. 
A obra é "Viva La Vida", de 1954. Quem conhece o trabalho de Frida, nota que esta é uma obra um tanto diferente da maioria de seus quadros. No entanto, é no mínimo inspirador, para aqueles que podem enxergar muito além.
Vale ressaltar a curiosidade de que a banda Cold Play, intitulou seu álbum e uma de suas músicas de maior sucesso de "Viva La Vida", inspirados pela obra de Frida. 
Deu pra entender  o quanto tudo isso quer dizer, se os seus olhos buscarem além?
Pois então, VIVAM! Agora, já! Viva La Vida!

 Viva La Vida. Frida Kahlo, 1954.
Claudio Rizzih.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Annexe Secreta.

Amigo Leitor...
Conheça –ou, se você já a conhece, reencontre- Annelies Marie Frank, a nossa Anne Frank. Trata-se de uma menina adorável, nascida em Frankfurt Am Main, no dia 12 de junho de 1929. Tendo como cenário de sua vida a segunda guerra mundial, a condição de Judeus obrigou Anne e toda a família Frank (O pai, Otto Frank, a mãe Edith Frank e a irmã Margot Frank) a morar em um esconderijo, que Anne chamou de Anexo Secreto. E foi lá, escondida das calamidades e barbaridades que a guerra lhes oferecia por meio de sons, imagens, gritos e bombardeios, que Anne extravasou seus sentimentos de menina-mulher por entre as linhas de seu diário.
Seu maior sonho era ser escritora e jornalista. Infelizmente - e encontre nesta palavra todo o meu sincero pesar, Anne faleceu no campo de concentração Bergen-Belsen, sozinha, longe dos pais e da irmã que falecera diante de seus olhos. Ambas as vítimas de tifo. Mas, mal podia imaginar Anne que ali, no Anexo Secreto em companhia de Kitty (era assim que se chamava seu diário) escreveria o documentário mais emocionante, sincero e comovente da segunda guerra mundial, tornando seu sonho realidade sem que ela pudesse ao menos cogitar esta possibilidade em tamanha grandeza. O Diário De Anne Frank foi traduzido para nada mais nada menos do que sessenta e oito línguas em todo o mundo, e é hoje um dos livros mais lidos da história.
Conheça esta vida de perto, amigo leitor. Tranque a porta e viva conosco por dois anos no Anexo Secreto. Descubra o Amor em sua forma mais pura, através desta menina.

Imagem do real Diário De Anne Frank.

Agora, peço sua licença para fazer a minha singela homenagem particular á Anne, da mesma forma que fazia diariamente junto á Kitty.

7 de Janeiro de 2011.

Querida Anne.

Antes de qualquer coisa, seja bem vinda á minha casa.
Ontem, terminei de ler o seu diário. Como escreve maravilhosamente bem!
Preciso dizer que me encontrei em muitas linhas das suas palavras. Para falar a verdade, em quase todas! Imaginei o quanto foi triste sentir-se incompreendida, quando tão bem te compreendo e como queria poder ter lhe conhecido.
Peter tem razão. Tens lindos olhos! Mas o seu sorriso é o que ganha a mim e aos que te conhecem.
Acompanhei tudo o que aconteceu nestes tempos todos com a sua mãe. Como um alguém que olha de fora, vejo que ela era uma boa pessoa e que muito lhe amava. Mas há coisas que só percebemos depois de certo tempo, ou às vezes, nunca percebemos.
Oh, não me posso esquecer da Sra. Quackenbush! Quack Quack Quack! Desatei em gargalhadas com a sua estória, como é deliciosa de se ouvir! Pois eu sempre fui tagarela feito você!
Oh Anne... Há tanto que eu queria poder te dizer. Neste tempo todo em que tive em minhas mãos seu diário, pude trancar-me de verdade atrás da porta falsa, e viver tudo o que você descreveu. Com palavras não sei dizer como tudo se fez real em minha mente.
Finalizo –mesmo sentindo acumulado ainda muitas coisas as quais lhe gostaria de falar, dizendo que em todo o mundo, és uma das escritoras que mais admiro.Posso te sentir perto.
Sinta-se aplaudida, e ouça meus gritos honrosos ao seu nome.
Com Amor,


Seu Cláudio Rizzih.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pobre Podre Viúva.


Esta era a terceira vez que Valéria enterrava um marido.
Ulisses, Humberto, e agora Milton. Mas, relembremos o começo de toda a história. Contava trinta e um anos quando conheceu Ulisses. Namoraram, noivaram e dentro de alguns meses já estavam casados. Depois do clássico mar de rosas que levou menos de um ano, Ulisses passou a mostrar suas reais faces. Trabalhava pela manhã e tarde, e revezava suas noites e fins de semana entre os bares e a sala de casa – onde também bebia. As noites acabavam quase todas da mesma forma: móveis quebrados, gritos, sujeira por toda parte, e claro, alguns hematomas em Valéria. Ao fim de dois anos, Ulisses voltava de uma de suas noitadas, quando seu carro colidiu com uma carreta, reduzindo ele ao mesmo que os estilhaços dos vidros.
Mesmo que no fundo houvesse agora um alívio para aquela mulher que tanto amargurou, tratava-se de seu primeiro Amor. Do homem que um dia á ela dedicou palavras e tempo e carícias. Vestiu seu mais amargo preto, e enterrou então o amado desgraçado, que era o único culpado por agora, fazer rolar no rosto de Valéria lágrimas tão amargas quanto às vodkas que lhe embebedaram por muito.
Voltou á casa da mãe e da irmã mais nova. Salete, a caçula, estava crescendo e florescendo para a vida. Passou a aparecer com um namorado em casa; Eram ainda duas criaturas muito jovens. Não contavam mais que quinze anos. Por este motivo, era Humberto, o pai de Leonardo que o levava á casa de Salete. Vez ou outra entrou para tomar um café com dona Vera, e com Valéria. Bom, deixemos de ensaios. Apaixonaram-se, e Valéria enxergou ali, a possibilidade de recomeçar. Sob a bênção apreensiva de sua mãe, foi morar com Humberto. Sentiu-se cheia de uma alegria indescritível ao ver que podia sim, ser feliz de novo. Ele, um homem reservado e tímido, dedicou-se á ela com sinceridade. Planejaram aumentar a casa e ter um filho.
Naquela quarta-feira chuvosa, por uma ligação, disse á Humberto que se atrasaria, em função do grande movimento no salão –onde trabalhara desde muito moça- e ainda teria de fechar o caixa. Assim o fez. Ao aproximar-se o fim da noite, mais ou menos onze horas, passou no restaurante e comprou algo para jantar. Chegou em casa, foi aos fundos, pegou uma toalha, secou os cabelos, tirou os sapatos, e entrou. Na sala, Humberto, adormecido, com as pernas envoltas por um lençol, e o pescoço envolto pelos braços de uma outra mulher. Dormiam de forma tão serena que, pareciam eles os amantes que protagonizam a história de Humberto. Valéria permaneceu parada, com os batimentos mais acelerados que os de um rato. Está aí uma bela comparação, pois era bem desta forma que se sentia Valéria agora. Insignificante como um rato, diante da coragem de Humberto. Quem primeiro acordou, foi a vadia, ao som do choro desesperado de Valéria. Sacudiu os braços de Humberto, e já ia catando suas roupas. Resume-se que, nossa guerreira apenas depositou a aliança de ouro sobre á mesa de centro, e bateu às faces de Humberto a porta, que nunca mais abriria. Sua mãe foi a responsável por pegar seus pertences e dar um bom tapa na cara do sujeito.
De volta á casa da mãe, os anos agora passaram a voar. O sofrimento e as mágoas corroíam suas vísceras todos os dias, era inevitável. Quatro ou cinco anos depois de sair da casa em que morava com Humberto, recebeu a notícia de que falecera vítima de um câncer. Nem mesmo se maquiou. Vestiu seu preto, pesado e insolúvel, exatamente como o choro da viúva, e partiu ao encontro do jazigo, onde enterraria mais uma vez o Amor.
Encontramos então um intervalo de quase cinco anos. É verdade que Valéria conhecera outros homens, mas não teve com eles nada sério. Nada que pudéssemos chamar de relacionamento. Isto, até conhecer Milton. O primeiro passo foi Valéria contar absolutamente tudo que lhe houvera acontecido até então, ao passo que Milton, por sua vez, disse que faria tudo diferente. Não iriam morar juntos, prometeu que iria devagar, e que iria lhe provar que poderia ser diferente. Tudo e todos a sua volta insistiam que não era coerente aventurar-se mais uma vez. Apenas Vera, sua estimada mãe, lhe dedicou esperanças e preces, torcendo para que desta vez fosse feliz, aquela pobre criatura á quem chamava filha.
Começava então o processo de quebrantamento de um coração petrificado. Algo que não foi difícil. Valéria era criatura doce, e que se visto valer á pena, Amava com toda sua alma.
Ele lhe foi muito bom. Dizia que a Amava todo o santo dia, cobria-lhe de presentes carinhosos e flores. Nem mesmo a rotina de encontrar-se com tanta freqüência os fez esfriar. Dois anos. Dois anos de namoro, e absolutamente nada de ruim lhes havia acontecido. Agora todo receio havia ido embora, e Valéria enchia os olhos de lágrimas ao agradecer aos céus por aquele homem. Em um dezembro, Milton pediu sua mão em casamento. Ela, claro, aceitou. Não queriam festas, nem comidas, nem nada do gênero. Apenas uma cerimônia singela e o que lhes era de maior importância: casar-se nos corpos, corações, e papéis oficiais.
Era o dia do casamento, e ela pensava á todo instante como ele lhe havia sido sincero, e transparente. Dois anos depois e eles nem se quer moravam juntos. Agora sim, sentia-se preparada para entregar-se como nunca antes houvera feito, e Amar mais do que tudo e todos. Levada por Marcos, seu grande amigo, chegou á casa de Milton. Farta de preto, usava um vestido vermelho, que realçava sua pele bronzeada e bem cuidada. Encontrou Milton no quarto, sentado ao pé da cama.

- Meu Amor, vamos? Já está na hora. E então, gostou? Estou bonita?
- Está linda, Valéria.
- Está tudo bem, querido?
Depois de um silêncio enlouquecedor, disse:
- Na verdade, não. Eu Te Amo. Te Amo demais, e quero estar sempre contigo. Tudo entre nós está tão bem que, tenho medo que se casarmos tudo se acabe em brigas e desgaste. Acho que mesmo com tanto tempo, ainda sim, nos precipitamos. Melhor deixarmos como está. Eu preciso de verdade de um tempo para organizar meus pensamentos. Me desculpe, meu Amor.
Houve de novo silêncio. Valéria o quebrou:
- Está bem.

Foi a cozinha, e voltou com as mãos escondidas atrás do corpo. Com um sorriso, pediu que Milton a ajudasse a abrir o zíper do vestido. Ele levantou-se, e mesmo sem muito entender, se pôs de pé para fazer o que Valéria queria.
Valéria materializava, tornava externo, extravasava agora, os seus sentimentos exatamente como os tinha por dentro. Dilacerada. Fez de Milton um pano de cortes muitos. Tudo que se podia ouvir eram gritos desesperados, dele e dela. Tudo o que se podia ver, ao final, eram as escleróticas dos olhos de Valéria. Nem mesmo os dentes escapavam das manchas vermelhas de mágoa e ódio. Ligou para a polícia: “Matei o meu Amor”. Bateu o gancho.
Deitou-se ao lado do corpo furado de Milton, encolheu-se, e nem mesmo chorou. Apenas ficou quietinha, enquanto esperava a polícia, que demorou, e só chegou por ter sido chamada por Marcos, seu amigo que diante dos gritos, entrou para ver do que se tratava.
Talvez o erro fosse dela, de se entregar tão facilmente. Talvez não. Talvez fosse uma desgraçada, que veio ao mundo com uma sina terrível. Ou talvez a culpa fosse dos homens que lhe prometeram tanto e apenas decepção lhe deram. Isto cabe á cada um fazer seu julgamento. Ou não. Talvez não nos caiba.
Matou o seu o Amor. E para que não se deixasse trair por si mesma, permitindo-se ter qualquer sombra de esperança, trancou-se atrás de grades. Preferiu assim.
Fardo pesado e insolúvel. Exatamente como no choro da viúva.
Pesado como o seu sofrimento de uma vida toda.
Insolúvel, exatamente como seu líquido lacrimal.
Podre.
Pobre Víuva.



Claudio Rizzih.