quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Penha

(Num fim de tarde demais pra pensar em fazer diferente).


Os meus pés desenham o fim do trapiche desta praia
Abaixo dos meus olhos um mar sem ondas, silencioso
E profundo.
Deve haver lá em baixo peixes, espécies muitas, areia, objetos.
Sinto uma vontade tamanha de me deixar cair
E ver se no meio desta desordem de Deus
Encontro o que restou daqueles dias. Do passado.
Que uma vez me pôs maravilhado, e abandonou-me
Em Saudades a ancorar.

Claudio Rizzih.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jazigo Macio.

Ela sabia que só tinha mais um dia.
Estava diagnosticada.
Então naquela noite estalou ovos, passou ela mesmo o café.
Ele sentou-se a mesa, lhe sorriu Amorosamente
Ela engoliu aquele sorriso devagar, e voltou ao fogão para esconder as lágrimas.
Amavam-se tanto, tanto...
Foi ao quarto, cheirou as roupas dele.
Olhava os sapatos, os uniformes do trabalho, os móveis
Havia ainda o presente bem alí, na medida do possível, sólido.
Mas o passado fora tão perfeito, tão mais perfeito
Tão verdadeiramente o que de melhor acontecera em sua vida
Que ela havia colidido. Estava presa, bem lá.
Ele ligou o chuveiro, e ela ouvia a água cair, enquanto imaginava o seu corpo
Em cada parte. Lembrava-se do gosto, da temperatura
E chorava. Tão insolúvel, pesado, saudoso...
Cerrava os olhos, e seus momentos juntos lhe vinham como vultos.
Céus... Como fora feliz.
Quando ele voltou ao quarto, ela já fingia dormir.
Não houve um diálogo naquela noite
Apenas o costumeiro "Boa noite, meu bem"
E um beijo. Um último beijo.
Aquele silêncio surtia-lhe o efeito de mil demônios gritando em seus ouvidos
Travando uma batalha com a canção que era a respiração lenta dele.
Percebeu que descansava em sono pesado, e o abraçou por trás.
Ele era tudo o que ela mais Amava em sua vida. E a sua existência era o motivo
De seus dias mais quentes, e seus risos mais gostosos.
Vital feito saliva.
Não pregou os olhos aquela noite.
Ela sabia que só tinha mais um dia.
Pois havia se auto-diagnosticado.
A sua chaga era o passado, e era terminal.
Levantou-se e foi tomar o seu café
Que naquela manhã de um quase breu
Descia mais amargo do que o normal.
Pôs-se nua. Vestia apenas seus anéis.
Os que ele lhe dera.
Foi procurar em algum lugar do tempo
O Amor com sabor de manhãs, laranjeiras e reconciliações
Que havia ficado nas frestas.
Ele levantou. Calçou seus chinelos velhos e foi á cozinha.
Havia uma gérbera amarela no canto da janela
E um rouxinol cantava alegremente.
Cantava para sempre.
E lhe destruía pensar que
Ele teria muitos dias.
Muitos, muitos dias.

Boa noite, meu bem.
E,
Eu Te Amo.


Claudio Rizzih.


Como esta noite findará?