terça-feira, 15 de novembro de 2011

Madre

Sentado no mato, espero.
Os dias me fundem ao barro
Palmo por hora
Sentado no mato, espero.
Um dia tua fome de gente e asfalto
Será saciada
E eu vou estar te esperando
Com o meu Amor que é rural
Feito pra colono que és.

Claudio Rizzih.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Cavalo

Recordo-me bem as infiltrações
Num período de vulnerabilidade.
Mas agora muralha há
Nada molha nem espalha.
Faz sol na tua geografia
Logo mais no fim do teu dia,
Me verás!
Sou eu chovendo lá atrás do morro
Longe... Longe...
Reza brava para que os ventos me soprem
Pro norte, lá longe, pros quintos, fazes.
Massa de ar seco dos caralhos.
Pragueja inútil aos ventos
Renunciando um resto de vontade
Do fundo do casco,
Seu cavalo.

Claudio Rizzih.

Três

Um talho para cada erro
Um homem para cada falha
E três com três com três
Logo estes nove se farão vinte e um
A soma se perde em meio aos fracassos
Do par exato, nós dois.
Neste cálculo sem fim
Já não encontro mais em mim
Derme para aliviar.

Claudio Rizzih.

domingo, 6 de novembro de 2011

Soro

Pensar em você me enforca.
Nossas fotos uma facada
O teu cheiro, claustrofobia
Tuas cartas me queimam os olhos
Ligações, esquizofrenia
Pensar Joaçaba, vertigem
Lembrar meus ciúmes, urticária
Imaginar nosso sexo, taquicardia.
Pensar não te ter... Coma.
E nesta rotina de –Santo Deus- todos os dias?!
Pergunto-me como diabos ainda estou vivo.
Misericórdia, esperança, sorte (não sei).
Mas gosto de acreditar que é por que
Mesmo com tamanhos excessos e
Todo o meu drama poluente
Este Amor é puro como uma bacia d’água. 

Claudio Rizzih

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Versículo

As ruminações desta quinta-feira
Se findam quando o mar da Penha
Me estende os braços
E as suas ressacas me sussurram solidões.
Em noite e dias assim
Mesclando a ânsia sincera e visceral pelo futuro
Com um desejo devastador, força maior
Que hoje fosse ontem
E ontem antevéspera
Tento dormir.
Se quem vive de passado é museu
Eu sou uma cidade pré-histórica.

Claudio Rizzih.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ovo


Vou chegar assim, mendigo,
e logo te ganho.
Fico assim, contigo,
e te roubo.
Me enxergarás, para ti, o amigo.
me Amas.
E cuspiremos no mundo, donos de todas as razões
Tropeçaremos na baila, mijaremos na orla
Seguiremos as regras –algumas-
Neste entrelaço de artérias.
Vê? Te pertenço.
E então te ouvirei. Te enxugarei, e pronto. Nada falo.
Pois neste nosso silêncio há de haver uma resposta.
Eu serei a tua incubadora
E tu me descobrirás teu umbigo.
Nós dois, num ovo.
Num gole, num bairro.
Num ovo.
Mas aí, caro amigo
Desça logo de mim,
Pra não te machucares muito quando eu partir.
E ainda que eu prometa voltar pra te ver,
Não esperes por mim na varanda,
Nem sondes vez ou outra a sacada
Para ver se viro a esquina.
Deixo contigo memórias
De todo o meu te entender e te Amar.
Deixo saliva, cartas e porra.
Só não espere que eu seja nos teus trilhos permanente companhia.
Não espere de mim ser toda uma ferrovia.
Eu sou uma carona.
Eu, na boléia, sentado ao lado de mim.
Só, e só.

Claudio Rizzih.